AMORTE
Se alguém quer matar-me de amor,
que me mate no Estácio...
Luiz Melodia
O trabalho fotográfico de AC Júnior em “Baixo Estácio” me traz à lembrança palavras do poeta Carlos Drummond de Andrade, enaltecendo o seminal livro “A Pedra do Reino”, de Ariano Suassuna: “Não é qualquer vida que ... “. O grifo é meu, a vida é de AC Júnior.
Nasci no Estácio, fui para Vila Isabel com três anos e meio e voltei para lá com onze anos. Vejo passagens de minha própria existência pelas lentes de AC: a cadeira na calçada; a grelha da churrasqueira; o casario esburacado, mas com toques surreais de cor; a absurda carcaça de um fusca no telhado da loja inverossímel; o poster de lindas mulheres contrastando com as flores gonocócicas; a onipresente bola de futebol meio baleada; o lixo, o lixo, o lixo; o cafetinesco carrão dourado; os aparelhos de tevê com antenas de chifre e péssimas imagens; a proteção – ai de nós! – de São Jorge Guerreio e São Sebastião Flechado; o fulgor lisérgico da fantasia brotando entre samambaias-choronas.
“Baixo Estácio” faz meu coração cantar de raiva pelas covardias que vi, e me faz reconhecer, como no samba com João de Aquino, que eu vim da Maia Lacerda e essa merda faz parte de mim. Associo a esse, outro verso de uma parceria inédita com o nunca suficientemente pranteado Ratinho:
O Sol, que é tão metido a Astro Rei,
sempre apagou nos butiquins onde eu brilhei.
É mentira, claro – mas uma mentira de amor. O Estácio é pródigo em amores, mentiras e mortes.
Por isso, as fotos de AC Júnior parecem miragens: o Estácio é um deserto que seus adoradores transformam em oásis coloridos – um pedaço da cidade cheio de jóias fulgurantes e rios diamantíferos que, se forem olhados de perto, são farrapos de serpentina catados por uma criança na sarjeta.
Nasci no Estácio, fui para Vila Isabel com três anos e meio e voltei para lá com onze anos. Vejo passagens de minha própria existência pelas lentes de AC: a cadeira na calçada; a grelha da churrasqueira; o casario esburacado, mas com toques surreais de cor; a absurda carcaça de um fusca no telhado da loja inverossímel; o poster de lindas mulheres contrastando com as flores gonocócicas; a onipresente bola de futebol meio baleada; o lixo, o lixo, o lixo; o cafetinesco carrão dourado; os aparelhos de tevê com antenas de chifre e péssimas imagens; a proteção – ai de nós! – de São Jorge Guerreio e São Sebastião Flechado; o fulgor lisérgico da fantasia brotando entre samambaias-choronas.
“Baixo Estácio” faz meu coração cantar de raiva pelas covardias que vi, e me faz reconhecer, como no samba com João de Aquino, que eu vim da Maia Lacerda e essa merda faz parte de mim. Associo a esse, outro verso de uma parceria inédita com o nunca suficientemente pranteado Ratinho:
O Sol, que é tão metido a Astro Rei,
sempre apagou nos butiquins onde eu brilhei.
É mentira, claro – mas uma mentira de amor. O Estácio é pródigo em amores, mentiras e mortes.
Por isso, as fotos de AC Júnior parecem miragens: o Estácio é um deserto que seus adoradores transformam em oásis coloridos – um pedaço da cidade cheio de jóias fulgurantes e rios diamantíferos que, se forem olhados de perto, são farrapos de serpentina catados por uma criança na sarjeta.
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