Na Linha dos Trópicos



O artista visual Raimundo Rodriguez retoma, a partir de agosto, o projeto de exposições itinerantes realizadas pela Caza Arte Contemporânea. A unidade do Café Baroni da Praça XV recebe no próximo dia 14 de agosto, entre 17h e 20h, a mostra "Na linha dos trópicos" com obras dos jovens artistas Pedro Sekiguchi e Manoel Manoel.

A coletiva apresenta pinturas cujo tema aborda a experiência do cotidiano urbano. O texto da exposição é de autoria da artista e professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA - UFRJ), Mirela Luz. Na dissertação ela cita que "é a vivência do corpo social, político e estético da cidade desiludida que vai desencadear todo o processo criativo das obras de Pedro Sekiguchi e Manoel Manoel. Suas obras são oriundas da experiência de circulação pela urbe refletindo-se em crônicas visuais costuradas e sobrepostas em planos que entrecruzam-se em intersecções e tangenciamentos diversos". A mostra conta com XX (número) obras.

A exposição fica em cartaz até 8 de novembro. A entrada da mostra é gratuita e livre para todas as idades. Para visitar basta comparecer ao Café Baroni do Edifício Bolsa Rio, que fica localizado na Praça XV, nº 20, térreo, Centro, Rio de Janeiro, de segunda a sexta, de 8h30 às 20h.

Serviço:
Exposição coletiva "Na linha dos trópicos", de Pedro Sekiguchi e Manoel Manoel
Realização: Raimundo Rodriguez | Caza Arte Contemporânea
Texto: Mirela Luz
Local: Café Baroni - Edifício Bolsa Rio (Praça XV, nº 20, térreo, Centro, Rio de Janeiro)
Inauguração: 14 de agosto de 2019
Visitação: de 15 de agosto a 8 de novembro de 2019, de segunda a sexta, de 8h30 às 20h
Censura livre | Entrada gratuita

Na Linha dos Trópicos

Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza do calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes “a arte de flanar”.


De certa forma, “a arte de flanar’ de João do Rio está presente na obra de Pedro Sekiguchi e Manoel Manoel a partir da curiosidade e perpétuo desejo incompreensível do cotidiano urbano”. Construções heterogêneas, comércio pulsante, letreiros luminosos, ruídos onipresentes e o fluxo descontínuo de anônimos circulando, sobre rodas ou não, por largas avenidas, ruelas e becos, caracterizados por diferentes classes sociais, gênero e etnias configurando a paisagem da metrópole contemporânea. As obras são oriundas da experiência de circulação pela urbe refletindo-se em crônicas visuais costuradas e sobrepostas em planos que entrecruzam-se em intersecções e tangenciamentos diversos.

A resposta de Pedro Sekiguchi às suas experiências urbanas é uma colcha de retalhos alinhavada por uma mistura de texturas, cortes irregulares, grafitti e ritmos descompassados. Suas pinturas são construídas a partir de retalhos de lona, voil, elanca, gabardini e ribana associadas às colagens, ao spray e tinta acrílica resultando em uma geometria meio informal, quase construtivista. Pedro traz uma bagagem do mundo da moda e não à toa suas referências variam de personalidades como Rick Owens e Virgil Abloh a artistas mais jovens como Robert Nava e Oscar Murillo. A aparente ambiguidade de materiais e texturas é quebrada pelo trânsito de uma linha cambiante que alinhava os retalhos promovendo uma construção de puxadinhos ora toscos e brutos, ora sofisticados e elegantes.

O universo urbano de Manoel Manoel é mais dinâmico, seus trabalhos não são alinhavados e sim aglomerados, são fluxos descontínuos de uma urbe fragmentada e caótica reflexo de sua experiência pessoal de perambulação, de vadiagem por regiões distintas ativadas por extensos deslocamentos cotidianos. Manoel apresenta serigrafias construídas a partir desses congestionamentos literais e metafóricos da cidade resultando em imagens cruas e ásperas, distanciadas de sua origem embora, paradoxalmente, remetam a certa melancolia.

Manoel refere-se a seus trabalhos como ruínas tropicais e, talvez seja nesse lugar de ruína que os trabalhos dos dois artistas se encontram, ao menos dialogam, ou seja, é a experiência viva do corpo social, político e estético da cidade desiludida que vai desencadear todo o processo criativo desses artistas. E é na “alma encantadora das ruas”, que a inteligência no perambular será convertida em arte.


Mirela Luz é artista visual e professora da EBA/UFRJ


¹ Fragmento do texto de João do Rio A alma encantadora das ruas.

Página da Caza

Páginas originalmente publicadas no caderno Arte - Jornal do Commercio, entre 30 de Março de 2012 e 03 de Fevereiro de 2013.

Agora tambem em: paginadacaza.blogspot.com


Caza Arte Contemporânea na Feira Artigo

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